domingo, 8 de fevereiro de 2009

Velha História

Velha história
Mário Quintana
Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho. Mas o
peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas,
que o homem ficou com pena.
E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois
guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o peixinho sarasse no quente. E desde então
ficaram inseparáveis.
Aonde o homem ia, o peixinho acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas
calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés.
Como era tocante vê-los no “17”! – o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a
xícara fumegante de moca, com a outro lendo jornal, com a outra fumando, com a outra
cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava uma
laranjada por um canudinho especial ...
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora
pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao
peixinho:
- Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te mais tempo ao carinho
do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o
seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste ...
Dito isso, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho na água. E a água fez
um redemoinho, que depois foi serenando, serenando... até que o peixinho morreu afogado.




Um comentário:

My Creation

My creation Originally uploaded by Madelina.